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S&P 500, dólar, Brasil: como investir na ‘nova ordem mundial’ de Trump?

guerra tarifária iniciada pelo político conservador – mas de um jeito bem diferente daquele imaginado pelos teóricos da conspiração. Em vez de um complô de liberais, o que se vê é o medo de recessão global, queda na confiança nos Estados Unidos e um abalo sísmico nas bolsas globais.

Um gostinho disso apareceu logo nos primeiros meses do ano. Desde janeiro, as bolsas americanas perderam cerca de US$ 8 trilhões em valor de mercado, segundo dados da consultoria Elos Ayta. Estrategistas de Wall Street, que estavam empolgados no fim do ano passado com a volta de Trump à Casa Branca, hoje admitem que erraram — e feio nas estimativas. Muitos bancos, inclusive, já revisaram suas projeções para o S&P 500.

Mas, diante desse cenário, surge a pergunta: como investir na tal nova ordem mundial de Trump? A reportagem do InfoMoney conversou com especialistas para entender o que faz sentido nesse momento (e o que você deve evitar). Spoiler: há oportunidades no meio do caos – mas também algumas armadilhas pelo caminho.

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Investimento internacional

Comprar a queda do S&P 500 ou fugir do badalado índice global? Raphael Figueredo, estrategista de ações da XP, disse que, na conjuntura atual, faz mais sentido reduzir um pouco a exposição e aguardar o cenário ficar claro.

“Definitivamente há inúmeras companhias no S&P 500 que são muito boas, geram caixa e tem qualidade, mas problema é que é o que a gente está vendo é uma ruptura nessa nova ordem econômica, e como a gente ainda não tem uma solução para ela, o ajuste hoje é mais para a defensividade, deixar o investidor se protegendo de uma eventual recessão do que uma exposição agora”, disse.

Mas reduzir não significa cortar totalmente relações com o índice, que historicamente tem um retorno médio annual de 10% desde sua criação, segundo dados levantados pelo banco suíço Julius Baer.

“Na verdade, o S&P é aquele que você sempre tem que estar investido. A brincadeira é que se você shortear o S&P – ou seja, apostar contra – com certeza você não consegue dormir direito, porque nós estamos falando não só das maiores empresas do mundo, como das companhias de maior qualidade do planeta. Então, eu acho que momentos como esse, de elevada incerteza e correção, são sempre momentos de ótima oportunidade para adquirir excelentes empresas a preços bem atrativos”, disse Renato Nobile, gestor e analista da Buena Vista Capital.

Para aqueles que querem montar posição com o recuo recente, Enzo Pacheco, analista da Empiricus, sugere procurar ativos mais defensivos, de setores como Bens de Consumo (empresas de alimentos, produtos limpeza, cuidados pessoais, coisas do tipo, e não consumo discricionário, como itens não-essenciais); Utilities; Serviços de Comunicação (empresas telefonia) e Saúde. “Ou seja, aquilo que não tem seu consumo impactado significativamente por conta de uma desaceleração econômica, recessão ou depressão”, listou.

Oportunidades no Brasil

Diante dos tiros tarifários dos EUA e das respostas de países como a China, economias emergentes – como o Brasil – podem se beneficiar e entregar bons resultados aos investidores. “O Brasil tem uma janela de oportunidade como fornecedor alternativo de commodities agrícolas e minerais, principalmente para a Ásia. O setor do agronegócio pode se beneficiar do desvio de comércio global, ainda que com algum atraso nos efeitos. Empresas como SLC Agrícola (SLCE3), JBS (JBSS3) e Vale (VALE3) estão entre as mais bem posicionadas”, disse Régis Chinchila, analista-chefe da Terra Investimentos.

Ele lembrou, porém, que o país enfrenta desafios internos, com projeções de crescimento revistas para baixo e o risco de uma recessão superficial, além de ter uma taxa de juros elevada, o que limita o crescimento doméstico. “Por isso, recomendamos foco em empresas exportadoras, setores menos dependentes do consumo interno e ativos com liquidez, qualidade e capacidade de atravessar um cenário volátil”.

A XP chegou a montar uma cesta com empresas que podem se beneficiar desse ambiente de tarifas mais altas. O portfólio inclui nomes como Aura Minerals (AURA33), Agro Brasil (AGRO3), Gerdau (GGBR4), Rumo (RAIL3), SLC Agrícola (SLCE3) e Unipar (UNIP6). Desde seu lançamento, em 21 de fevereiro, o produto acumula alta de 8,5% até o fechamento de ontem – no mesmo período, o Ibovespa caiu 0,5%. Na renda fixa local, as recomendações seguem as mesmas do início do ano: o foco deve estar em títulos atrelados à inflação (IPCA+), pós-fixados (CDI) e CDBs de alta liquidez.

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Dólar e ouro

Para os especialistas ouvidos, a moeda norte-americana segue sendo uma peça-chave na diversificação. “Diria que dólar sempre tem que ter na carteira. É sempre interessante você ter um equilíbrio, diversificando o risco Brasil. Eu acho que o dólar é a principal moeda e vai continuar sendo a principal moeda por um bom período de tempo. E você estar exposto ao dólar faz bastante sentido, claro, de acordo com seu perfil de investidor’’, disse Nobile, da Buena Vista Capital.

Vale também apostar parte da carteira no ouro, que atingiu máximas históricas, na visão de Pacheco, da Empiricus. “É um ativo que busca de proteger o investidor da inflação (caso as tarifas impactem os preços aos consumidores finais), mas também pode se beneficiar de possíveis cortes de juros do Federal Reserve (Fed) se a economia piorar muito, apesar de não ser o cenário-base, uma vez que o banco central ainda me parece mais preocupado com a parte da inflação do que com o nível de emprego no seu mandato”.

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Carteira da nova ordem mundial

Régis Chinchila, da Terra Investimentos, montou sugestões de carteiras para os três perfis de investidores navegarem no panorama atual. A lógica é proteger e buscar oportunidades em um cenário global de pessimismo, que é o maior em 30 anos, segundo uma pesquisa do Bank of America (BofA).

Conservador Moderado Arrojado
65% em renda fixa local (Tesouro Selic, IPCA+, CDBs de alta liquidez) 45% em renda fixa local (IPCA+ e prefixado) 25% em renda fixa (Brasil e exterior)
10% em ações locais (foco em dividendos) 20% em ações locais (setores defensivos e exportadores) 25% em ações locais (incluindo small caps e exportadoras)
15% em ativos internacionais defensivos (ETFs, fundos globais) 20% em ações globais (viés defensivo e exposição a emergentes) 30% em ações globais (com exposição a emergentes como Índia e Sudeste Asiático)
10% em ouro ou fundos cambiais 10% em commodities (ouro, alimentos) 10% em commodities (minério, petróleo, ouro)
5% em caixa ou hedge cambial 10% em ativos dolarizados ou câmbio direto
Fonte: Terra Investimentos

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