Curiosidades e Conhecimento

Padrões de contato visual revelam sutileza da comunicação humana

Contato visual.

Contato visual é importante para comunicação humana, mas não da maneira que é tradicionalmente pensado. Crédito Skitterphoto/Pixabay

Uma conversa vai muito além de falar. Ela também envolve, como escreveu a autora sueca Annika Thor, “olhos, sorrisos, os silêncios entre as palavras”. Quando esses elementos se harmonizam ou funcionam juntos, os interlocutores se sentem envolvidos e conectados. Como bons conversadores, neurocientistas da Dartmouth College tomaram essa ideia e a levaram a novos domínios. Eles relatam algumas descobertas surpreendentes no que tange a interação entre o contato visual, dos olhos, e como duas pessoas sincronizam sua atividade neural enquanto conversam.

Os pesquisadores sugerem, em um artigo publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences USA, que estar em sintonia com um parceiro de conversação é bom — mas que perder a sincronia pode ser ainda melhor. Acreditou-se por muito tempo que manter um contato visual age como um “fio condutor” entre duas pessoas em uma conversa. Sua ausência pode sinalizar uma disfunção social. De forma similar, o crescente estudo da sincronia neural tem se concentrado em grande parte no jeito como o alinhamento na atividade cerebral de indivíduos beneficia a conexão social entre eles.

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Pesquisas anteriores conduzidas pelo laboratório da Dartmouth haviam mostrado que uma dilatação sincronizada das pupilas serve como um indicador confiável de atenção compartilhada, o que, por sua vez, denota uma maior sincronia neural. No novo estudo, que mediu a dilatação pupilar durante conversas não estruturadas de 10 minutos, os pesquisadores descobriram que é o momento inicial do contato visual — em vez de um sustentado período de olhares fixos — que marca um pico na atenção compartilhada. Assim, a sincronia, de fato, cai logo depois que você olha nos olhos do seu interlocutor e só começa a se reconstituir quando você e aquela pessoa desviam seus olhares um do outro. “O contato visual não está promovendo a sincronia; ele a está interrompendo”, diz Thalia Wheatley, autora sênior do artigo.

Por que isso aconteceria? Wheatley e a autora principal do estudo, Sophie Wohltjen, sustentam que estabelecer e romper o contato visual propele a conversa para frente. “Talvez o que isso esteja fazendo é nos permitindo quebrar a sincronia e voltarmos para dentro de nossas próprias cabeças para que possamos produzir contribuições novas e individuais para mantermos a conversa andando”, diz Wohltjen.“É um estudo fantástico”, diz o psiquiatra e neurocientista social Leonhard Schilbach, do Instituto Max Planck de Psiquiatria em Munique, que estuda interações sociais, não envolvido na nova pesquisa. Ele aplaude o modo como o experimento foi projetado para replicar encontros naturais e focar na forma livre de conversação. Os resultados sugerem, diz ele, que “a sincronia interpessoal é um aspecto importante das interações sociais, mas pode nem sempre ser desejável”.

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Refletindo mais sobre a função do contato visual, os pesquisadores examinaram estudos passados sobre a criatividade — que apontaram para as limitações de demasiada sincronia. “Se as pessoas estão tentando inovar de alguma forma, você não quer que elas estejam em perfeita sintonia umas com as outras”, diz Wheatley. “Você quer que elas digam ‘E se fizéssemos isto? E se fizéssemos aquilo?’ Você precisa que as pessoas estejam fornecendo seus insights independentes”. Conexões entre o olhar fixo e a sincronia podem ser relevantes para pesquisas em autismo e outras condições psiquiátricas que envolvem uma interação atípica. As descobertas também ajudam a explicar as frustrações no que tange as plataformas de videoconferência, nas quais é quase impossível estabelecer —ou romper —um contato visual real devido ao posicionamento das câmeras e das várias janelas nas telas.

Lydia Denworth

Publicado em 04/12/2021.

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Fonte: Scientific American Brasil